sábado, 7 de novembro de 2009

É IMPOSSÍVEL ELIMINAR TODOS OS QUES




No meu serviço público, entro na casa das pessoas, ou na vida mais ou menos sem pedir licença. Explico: tenho uma mandado judicial para fazer isso.
Procuro fazer isso da forma mais delicada e firme possível, na maior parte das vezes funciona. Poucas vezes a resistência é tão forte que só com a delicadeza da polícia.
O mais impressionante é estar tão perto da vida real das pessoas; é de certa forma assustador.
Imagino como um terapeuta se sente tendo acesso a histórias pessoais íntimas, agora, pense em entrar na casa da criatura, ai, ai.
Esses dias entrei na casa de duas passarinhas.
É um prédio antigo no centro da cidade onde moram duas senhorinhas quase duas rolinhas. miúdas, miúdas. O apartamento é um conglomerado de coisinhas, móveis e lembranças, tudo muito arrumadinho.
O pai das senhorinhas foi dono de vários imóveis na cidade. Estava eu lá para que elas pagassem o imposto de um terreno que era desconhecido de ambas.
O pai morreu e elas não fizeram o inventário; disseram que muitos imóveis foram tomados (pensei comigo como alguém que teve os bens tomados não reage) e achavam que não restava nada. Repeti a orientação nem sei quantas vezes. Fiquei com a impressão de que elas não saiam do apartamento para quase nada. Não casaram e olhavam prá mim com ar desconfiado.
No começo achei que elas nunca entenderiam que talvez fossem até abastadas e, o fato do imposto estar atrasado na verdade indicava que elas tinham um imóvel - o que não é definitivamente uma má notícia. Enfim, foi um grande agito na vida delas, elas tinham uma investigação para fazer e ficaram visivelmente em suspense. Confesso que também fiquei. Será que as duas rolinhas vão finalmente sair do apartamento?