sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

COISAS DO SELVIÇO - Eu acredito em saci

Aparece uma mulhé e diz, dexa que eu te levo lá.
Não deu tempo de responder.
Foi entrando no carro e eu com a papelama esparramada um pouco no banco, outro pouco no chão. Ela nem ligou, entrou conversando e pisando e botou a bundinha dos seus 80 kg por cima. Deu um sorrisinho, olhou e falou, nossa! tirou o chinelo prá pisar só com o pé e mandou, vou sentar na beradinha.
Agora já não dava mais prá responder mesmo.
Segurando a porta meio aberta com o braço, me fez andar uma quadra, apontou a casa e disse, se ela me ver me mata e bateu a porta com tudo.
Aquele cabelo curto no toco, os dentes um prá lá outro também, um sorriso de coisas vãs.
Da casa olhei de volta, cadê?

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

VIVER É PERIGOSO

Tenho visto várias pessoas próximas justificarem seus atos presentes como resposta a frustrações antigas. Em geral as justificativas começam com o querido se...
alguém não tivesse me fubecado...
Prá colocar em termos pessoalíssimos, vou contar uma parte da minha própria história.
Quando tinha dezessete anos e estava sendo chamada para entrar na melhor escola de MPB da época, o CLAM, me descobri grávida.
Não me casei e enfrentei sérias dificuldades. Tive que desistir do curso e ao invés de morar em São Paulo, onde eu já estava, passei a morar numa fazenda no interior de São Paulo, não pra me esconder, mas meus familiares moravam lá.
Por questões óbvias era o melhor que eu podia fazer.
Meus familiares não foram, na época, nada amistosos comigo.
Passei da adolescência para a fase adulta, como acontece com outras meninas na mesma situação, dos dezessete pros dezoito anos.
De lá para cá, isso já tem vinte e seis anos, eu e minhas duas filhas, andamos por caminhos ora muito difíceis - os famosos "deu tudo errado"- ora de celebração, como agora estamos.
Elas saíram de casa aos dezessete, não para ter filho, mas para estudar.
Uma delas está numa classe de honra numa universidade americana, outra foi convidada a dar aulas, depois de ter saído-se muito bem no último curso que fez.
Venho estudando música há alguns anos, hoje passei a tarde com meus amigos tocando chorinho e faço outra ótima escola de música, o conservatório de Tatuí.
Não me lembro de erros diabólicos que cometemos e sinceramente não acredito que ainda possamos fazê-los e não, eu não estou sendo cabotina.
A gente é malvadinha de leve, vai se corrigindo, escolhendo os caminhos que têm mais coração.
Também o demo tá saturado de ofertas, de modo que não tenho que conversar com meu cumpadre Quelemém, como o Riobaldo do Guimarães Rosa fazia.
Vamos continuar assim ao que tudo indica: andando, andando, andando. Nós nos recusamos a ficar paradas ou justificando perdas e danos com mais perdas e danos.
A gente briga e ri, esperneia, fica quase louca achando que "dessa vez nem a comissão internacional dos terapeutas fodões vão dar jeito", mas felizmente acaba voltando.
Não sei se fiz tudo isso parecer fácil.
Não é fácil viver assim e quem falou que viver é fácil?
Mas tem a música... o Guimarães... as meninas... os amigos...

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

D. Teresa


D Teresa, quanta paciência comigo, que colo gostoso!

Eu pouco entendia, ela me ensinava.

As franjas da toalha onde ela fazia seus amarrados,

A massa de macarrão e a farinha que eu via cair.

Eu era a convidada para as coisas que a avó Teresa fazia.

Pros outros ela era brava.

Pra ela eu era nininha.